REQUIÃO: UM SENADOR A SERVIÇO DO BRASIL
Por Antonio Renato, professor de História da E. E. Cel. Solon.
Falar bem de político em períodos não eleitorais não é uma prática comum entre as pessoas, principalmente no Brasil; e se formos fazê-lo tendo por base suas atuações nas casas legislativas (senado, câmara federa e estadual e de vereadores), então, é um desafio ainda maior, visto que nesse meio impera a mediocridade, quando se trata de discutir temas de interesse do país. Mediocridade, aliás, que não poupa nem a própria esquerda e seu principal partido, o PT. É incrível, mas não se vê nesse país políticos que assuma “um lado”, de decidida postura ideológica, que defenda uma concepção de desenvolvimento para o país; particularmente a direita econômica tem essa dificuldade, que se acentua ainda mais quando lavamos em conta as características, os componentes e fatores que levam a definição do termo direita, principalmente no caso brasileiro.
As posições que se identificam com a direita hoje (reduzida participação do estado e desregulamentação da economia), não são caracterizadas como tal e seus defensores não se assumem com determinação e de forma pública. Autodenominam-se no máximo de liberais. Quanto à esquerda majoritária, essa se perde em questões que não são . . .
essenciais, como as tais políticas compensatórias e verdadeiramente não enfrenta a questão estratégica, determinante, que é justamente a política econômica, ou no caso a ausência de uma, com características históricas nacionalistas.
Na farta mediocridade que impera, há políticos que fogem a essa nefasta regra e constituem exceções; entre essas estão dois senadores, que não por acaso não são alvo de intensa divulgação por parte da mídia: um é Cristovão Buarque, incansável na sua luta pela educação, embora particularmente, penso que o que vai determinar o nosso desenvolvimento, inclusive na educação, é a nossa independência econômica e não o contrário, pois essa necessita, sobretudo, de investimento; contudo, sua luta e a forma como a conduz, sensibiliza a nação para a importância do tema e isso o torna um dos políticos que honra esse país; o outro é um senador paranaense, como ele mesmo costuma dizer “do velho MDB de guerra”, Roberto Requião.
A esquecida bandeira do nacionalismo econômico sempre presente na vida política de um Leonel Brizola, na atuação acadêmica de um Carlos Lessa ou de um Celso Furtado, é preservada e fortalecida nas brilhantes e apaixonantes intervenções de Requião em sessões onde, predomina vergonhosamente, diga-se de passagem, discursos medíocres, carregados de denuncismo udenista por parte da oposição e temas regionais de senadores carreiristas, de menor expressão que, aliás, justifica a existência dessa excrescência republicana, o senado, e onde, infelizmente, podemos incluir os despercebidos senadores do nosso estado.
Requião é um obstinado defensor de suas posições e um senador que pensa o país como um todo. Mais do que isso, um nacionalista, cuja mídia, como é normal, tenta desconsiderar. Como governador de seu estado (por três vezes), dentro dos limites próprios de um governo estadual, sempre se posicionou de forma soberana e “sem dobrar a espinha” as grandes montadoras, sedentas da chamada “isenção fiscal”, o canto de sereia do pensamento neoliberal dos anos 90 e inicio dos anos 2000. Por ocasião da posse em seu terceiro mandato, fez um pronunciamento brilhante, uma peça de auto valor político, onde assume sem rodeios que seu governo tinha um lado, o lado da revitalização da empresa de energia do estado, das pequenas e medias empresas, da educação, da construção de hospitais, da esquerda em fim, dentro, volto a dizer, dos limites de um governo estadual.
Ainda como governador sempre pensou um projeto para o país, sendo o único a fazê-lo. Fazia isso usando a TV pública do estado, através de um programa denominado “escola de governo”, que além de divulgar as ações do governo, era uma verdadeira escola de educação política do cidadão quando exibia debates sobre questões nacionais com pensadores de viés nacionalista, onde de forma aberta condenava abertamente o pensamento neoliberal.
No senado, Requião inaugurou seu segundo mandato na casa, com um chamamento, uma provocação, que sempre pautou sua vida política: a independência econômica do país. Para isso não poupa ataques implacáveis ao pensamento econômico liberal; e o faz de uma forma didática. Explica as razões do nosso eterno subdesenvolvimento e as localiza historicamente, quando reitera que teimamos em não conseguir nossa passagem a condição de país prioritariamente industrial e manufatureiro no lugar de fornecedores de matérias-primas e agrícolas.
Com sua capacidade oratória indiscutível, derruba os fundamentos liberais do livre comércio apontado que na verdade esse tipo de relação nunca existiu, pois de fato como pode existir livre comercio entre nações com diferentes níveis de desenvolvimento. Mesmo fazendo parte da base aliada do governo, Requião faz duras e permanentes críticas à condução da política econômica, fundamentada nos superávits primários e principalmente nos elevados juros, que só serve para atrair capital especulativo, que como o mesmo afirma “não produz um botão”.
Tudo isso somado ao dogma, da religião neoliberal, a sagrada independência do Banco Central. Pra que elegemos presidente da República, pergunta Requião. Nos seus pronunciamentos não cansa de condenar, segundo palavras dele mesmo, a “tibieza” do governo em relação à política de juros.
Requião tem uma visão estratégica do país. Aumentar nosso nível de industrialização e numa outra ponta, diminuir como ele mesmo diz a “primarização da nossa economia”. Traduzindo: não podemos repetir erros do passado e priorizarmos a tendência histórica de exportação de produtos primários, as tais comodites, como são preferencialmente chamadas hoje em dia pelos economistas. Essa visão nacionalista de esquerda tem em economistas e intelectuais que orgulham esse pais, como Carlos Lessa, Maria da Conceição Tavares e Garcia Munhoz, seus principais expoentes.
Infelizmente foram e são poucos os políticos que abraçam essa causa. Nessa questão não sejamos tão injusto. Esse nivelamento do debate sobre os interesses da nação por baixo, não é uma característica só dos políticos; no mundo acadêmico essa postura de um vezo colonizado também predomina. Mas o mais decepcionante é ver que um debate de fato relevante para o país não é priorizado pelos senadores da esquerda.
Dentro da confusão que é o sistema partidário brasileiro, não podemos classificar o PMDB, onde se encontra nosso bravo senador, exatamente como um partido de esquerda; Requião faz parte e defende o programa daquele MDB, que abrigava todas as oposições ao regime militar. Hoje o PMDB ainda é uma frente, mas de velhos caciques da política e de políticos oportunistas e que tem participado de todos os governos desde a redemocratização, fornecendo-lhes a tal governabilidade.
O PT, essa esquerda que infelizmente conseguimos produzir, que indiscutivelmente é hegemônica, e que prefere o bolsa família no lugar do controle de capitais, insiste em manter o Brasil como mero fornecedor de minério e produtos agrícolas, que flerta com a famigerada independência do Banco central, não destaca um parlamentar seu numa defesa mais freqüente e contundente do nacionalismo econômico; acomoda-se no poder e não se dispõe a promover, pelo menos mais rapidamente, a passagem do pais a uma nova etapa, com uma clara política industrial que reverta o risco de desindustrialização cada vez mais eminente.
Verdade seja dita, não são todos os partidos da base aliada que assim se comportam; aqui tenho que fazer justiça ao meu bom e velho PCdoB, que também sabe dos riscos que o país enfrenta no caso de teimar em manter no essencial essa política econômica, e nesse sentido, amiúde, também se coloca, junto com seus dois senadores, a serviço do papel histórico do nacionalismo econômico.
O que Requião e os nacionalistas defendem na verdade, não é nada de excêntrico, anacrônico ou “jurássico”, como muitos dizem. É uma questão de sobrevivência da nação a longo prazo. As nações ditas desenvolvidas, pioneira da industrialização percorreram esse caminho. Os próprios EUA fizeram isso logo após sua independência, há duzentos anos, com o chamado “tratado das manufaturas” quando estimulava a produção de manufaturas visando à independência econômica com relação a sua ex-metrópole, a Inglaterra.
O país não pode se prender a “maldição de ser rico”, proveniente da abundância de recursos naturais. É um caminho que temos percorrido desde épocas coloniais, quando vivíamos a base da exportação de produtos primários. A rigor, não mudamos essa postura e não saímos da “esparrela” que nos colocou o processo histórico.
Hoje é a exportação de minérios e o agronegócio. Temos que buscar um nível de industrialização que inverta nossa pauta de exportação, e essa tenha na ponta produtos manufaturados. É a independência do país que esta em jogo. É uma questão estratégica para a nação, ou seja, dessa mudança depende outras, como por exemplo, a educação, segurança e saúde públicas.
A direita, pela sua natureza, de Campos Sales a FHC, esta disposta a manter essa nossa condição colonial; parte da esquerda, esta satisfeita com a expansão do consumo, em parte devido ao bolsa família, e se acomodou.
Antonio Renato. |
1 Comentário:
Parabéns ao professor Renato.Tenho acompanhado sua participação neste blog e muito me alegro da sua forma crítica de pensar e ver os acontecimentos da sociedade em geral.
Valeu, professor!
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