UM OLHAR DIFERENTE SOBRE A COREIA DO NORTE
Por Antonio Renato, professor de Historia da E. E. “Cel. Solon”
No Brasil e no mundo, trava-se um grande debate sobre o papel da imprensa, até onde vão seus limites, se sua atuação deve ser regulamentada. Sabemos que qualquer ação na sociedade, seja da imprensa ou de outras instituições, serve a determinados interesses. Isso é um dado concreto e que a vida mostra ser verdadeiro.
A imprensa não esta fora dessa verdade. Não está acima do bem e do mal. Ela serve a interesses poderosíssimos e o pior, é uma concessão pública. Estou fazendo esse alerta devido ao fato de muitas pessoas não atentarem para essa realidade, e por conseqüência não se preocupam com o aprofundamento das notícias veiculadas por certos órgãos da imprensa e acabam servindo e engrossando as fileiras da desinformação.
Em outras oportunidades já me referi a essa questão, sua natureza e motivações e, portanto não se faz necessário discorrer novamente sobre esse assunto. Contudo fica o alerta, . . .
principalmente para os freqüentadores assíduos da rede mundial; que façamos um uso sadio dela, pesquisando e procurando informações diferentes, que divirjam do noticiário oficial da chamada televisão aberta. E, posteriormente, cada um tire suas conclusões.
A grande vítima da vez, no noticiário internacional de final de ano, foi um pequeno pais, localizado no extremo asiático, que fez a festa dos telejornais da grande mídia, chegando a despertar um anticomunismo primário: a Coréia do Norte, cujo nome oficial é República Democrática Popular da Coréia do Norte (RDPC), por ocasião do falecimento do líder e presidente do país Kim Jong-ll. Sem nenhum apreço pelo conhecimento histórico desse heróico povo, os apressadinhos, exasperados como sempre, e não sei se por inocência, julgando-se donos da verdade, começam a forjar expressões do tipo: ditadura sanguinária, pais governado por tiranos, que massacra seu povo, nação de famintos.
Dá para notar, e ai nem é preciso muito esforço intelectual, que essas afirmações são no mínimo tendenciosas. Será que esse povo se dá ao trabalho de pelo menos conhecer a história dessa nação. Talvez uma parcela conheça, a outra certamente não sabe nem onde o país se localiza.
Vamos então localizá-lo geograficamente. A Coréia do Norte se situa na península coreana. No extremo leste asiático, fazendo fronteira com a China e a Coréia do Sul, com uma população de cerca de 23 milhões de habitantes. Localizada no espaço geográfico, vamos agora relatar um pouco da historia recente desse país. A península coreana tem um histórico de lutas contra ocupações externas, principalmente por parte do Japão, que vencendo uma guerra contra o império russo (1903-1904) se apossou da região e estendeu seu domínio durante quase toda a primeira metade do século XX, situação que só foi desfeita com o fim da segunda guerra e a derrota do Japão.
É justamente nesse contexto, de gênese da conhecida guerra fria (EUA X URSS) que vão ser construídos os componentes constitutivos da historia recente da península coreana. A nível interno se destaca a figura do líder Kim II Sung que liderava já durante a guerra, a luta guerrilheira contra a ocupação nipônica e tinha como projeto a constituição de um Estado independente, que se chamaria Coreia.
Nessa conjuntura, a península coreana, como de resto todo o mundo, teve o curso de sua historia determinado pela guerra fria. A hegemonia na região era disputada pelas duas grandes potencias, Estados Unidos e União Soviética. Como fruto dessa situação, a recém criada ONU dividiu a península em duas partes, tendo com o referencia o paralelo 38. A parte sul controlada pelos americanos e a porção norte sob influencia soviética.
Na tentativa de reunificar a nação, o lado norte promoveu a invasão do sul, que foi o estopim da guerra da coréia, considerado o primeiro conflito da guerra fria. Durante a guerra, que durou de 1950 a 1953, o norte contava com o apoio da URSS, ainda se recuperando dos estragos causados pelos nazistas na segunda guerra. Enquanto isso, os Estados Unidos investia todas as suas forças apoiando o sul, impedido a reunificação do país e claro interessados em criar uma área de permanente interferência nessa parte do mundo.
Um armistício é assinado em 1953; contudo as duas nações nunca assinaram um tratado de paz. Essa situação, agravada por uma permanente ameaça externa dos Estados Unidos, que instalou bases militares na Coreia do Sul, permanece até os dias atuais, somada a historia de resistência desse povo, explica a condição de certo isolamento da Coreia do Norte, uma espécie de “fortaleza sitiada.”
A conseqüência imediata dessa atmosfera de constante ameaça é que a nação foi forçada a voltar significativas parcelas de seus recursos para a sua defesa. É o mínimo que qualquer Estado com firmes propósitos de autodeterminação pode fazer. Não é a toa que a Coreia do Norte, apesar de territorialmente e demograficamente pequena, tem o quinto exercito do mundo; segundo informações, 15% do PIB é gasto na defesa do pais.
A Coreia do Norte, mesmo não sendo oficialmente membro do “clube nuclear” tem feito constantes testes visando desenvolver essa tecnologia (alguns dizem que a coréia do norte já possui armas nucleares) sendo o suficiente para despertar a arrogância e, muito a contragosto, o respeito das potencias ocidentais, principalmente os EUA.
Não obstante as condições externas extremamente desfavoráveis, agravadas internamente por desastres naturais, o país criou uma infra-estrutura industrial, já no governo de Kim II Sung, logo após a segunda guerra, foi feita uma reforma agrária que acabou com as características feudais ainda presentes no campo, e em termos sociais, a meu ver, o país tem dados bastante significativos, sendo um dos países com maior taxa de alfabetização do mundo(99%), além de ter um sistema de saúde totalmente garantido pelo Estado e elevado índice de saneamento básico.
Não devemos, construir conceitos e opiniões tendo por base os valores que marcam a nossa cultura. Nem devemos condenar um povo e caracterizá-lo pejorativamente por ter escolhido um caminho. A Coreia do Norte optou pelo firme principio da autoderteminação, por uma postura soberana radical, mesmo sabendo que tal opção acarretaria o jogo sujo do imperialismo. Outros povos já passaram por isso na historia.
Lembremos da “delenda Cartago”, destruída pelo imperio Romano. Internamente a nação passa dificuldades. Nós, com toda riqueza natural, pais continental, com maior área agricultável do mundo, e no momento sem ameaças externas passamos. A RPDC procura o que é elementar em qualquer nação, exercer na plenitude a condição de Estado independente.
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