A condução sem condição

Concluí meu curso de graduação em Mossoró, viajando diariamente numa condução que conduzia também todo nosso medo e a incerteza de voltar para casa livres dos imprevistos que as estradas e as péssimas condições do Ônibus eram capazes de nos proporcionar. Quantas noites ficamos no meio do caminho, sujeito ao frio, a escuridão e ao cansaço coletivo. Quando o céu estava estrelado, apreciávamos para não perder a esperança de um dia ver brilhar a certeza de novos tempos. Lembro-me das rezas de Célia de Maria de Zeca, quando a transmissão do ônibus caia e ela pedia por todos os santos que conhecia (e até alguns que eu nunca tinha ouvido falar) para que eles conduzissem a mão do motorista até o acostamento com todos são e salvos.  Aí passávamos uma noite ao relento, quando não conseguíamos algum filho de Deus para nos conduzir até a casa. 
O transporte era o mesmo que levava os alunos de Tibau. Todas as noites quando voltávamos de Mossoró, ficávamos na Gangorra à espera de que o ônibus fosse deixar os alunos do nosso distrito. Durante este tempo, nos divertíamos com as cambalhotas e pulos mortais de Amon e a displicência de Émerson de Narrubia, além das piadas um pouco indecentes que contávamos, mesmo sabendo que algumas senhoras e senhoritas odiavam.  Fazíamos da Gangorra um palco de manifestações artísticas, onde revelavam atores, poetas, atrizes e humoristas, procurando em seus improvisos, iludirem o tempo e ansiedade  de quem sonhavam em alcançar como Cachê, apenas o valor do prazer de regressar a suas casas.Quem viveu esses momentos indesejáveis para concluir um curso superior, soube superar os desafios e reconhecer as mudanças existentes entre duas realidade opostas: Ontem e hoje. Se ontem era sacrificante terminar uma graduação, imagine uma pós-graduação, mas hoje, por incrível que pareça, aqui em Grossos, podemos fazer os dois níveis de formação universitárias gratuitamente e sem correr riscos de morte no percurso de casa à Universidade.Grossos evoluiu e hoje não é mais assim. A universidade já faz parte do cotidiano da nossa cidade, inclusive com cursos de especialização. Que bom que toda aquela nossa luta e sacrifícios renderam frutos, sinal que nada foi em vão, mas sim um trampolim para a nossa querida cidade se tornar parte da realização dos nossos sonhos.

Por Francisco Celestino e Geová Costa e Silva