Considerações sobre a greve dos Trabalhadores em Educação da Rede Estadual.
Por Antonio Renato, Professor da Escola Cel. Sólon.
Primeiro façamos uma reflexão sobre esse fenômeno social. As greves se constituem num recurso, extremo, das classes trabalhadoras (atualmente ela ganhou ramificações, até greve patronal existe). Historicamente, sua origem se situa no século XIX, inclusive, uma dessas, nos EUA, serve como marco do dia do trabalhador. Era um período de condições desumanas para a classe trabalhadora fabril, onde direitos que nos parece tão naturais nos dias de hoje( redução de jornada de trabalho, melhores salários), eram inadmissíveis pelos patrões da época. E a forma que os trabalhadores encontraram para conquistá-los foi a paralisação de suas atividades, o que causava prejuízo as burguesias sedentas de lucro, já que estávamos em pleno desenvolvimento do chamado capitalismo industrial, nascido um século antes na Inglaterra. Aliás, foi lá que se originaram as primeiras organizações trabalhistas (os sindicatos), as famosas “trades Unios” . Portanto, a greve, não é obra de nenhuma mente brilhante ou mal intencionada, e sim produto da historia, do desenvolvimento da luta de classes, elevada num grau nunca visto antes, a partir do advento da revolução industrial do século XVIII...
Feita essas considerações e levando em conta as condições históricas de cada época, a greve dos trabalhadores em educação do RN obedece às mesmas motivações, e se coloca como único recurso no sentido de forçar uma negociação por parte do governo do Estado, sendo assim nosso único instrumento de luta; e para organizar movimento de tal envergadura, temos uma associação, um sindicato, o SINTE(sindicato dos trabalhadores em educação), que representa nossas justas e antigas reinvidicações, que, é bom frisar não se limitam as questões financeiras, mas abrangem aspectos que vão de encontro a valorização do papel do trabalhador em educação na sociedade e do professor em particular. É evidente que vão existir setores prejudicados, como em toda greve há, ou a sociedade não é prejudicada quando o sistema bancário entra em greve? Nesse sentido, o que podemos e devemos fazer é explicar com uma riqueza maior de detalhes por que chegamos a essa situação extrema. Primeiro, é necessário observar que prejuízos há, inicialmente de nossa parte, e não é algo recente, é na verdade uma situação que é recorrente na historia recente do RN; quanto aos alunos, que freqüentemente são utilizados de forma oportunista pelas autoridades, esses são prejudicados não é de hoje como resultado dos “desgovernos” sucessivos, quando o assunto é educação publica, ou nossas escolas não estão sucateadas, desprovidas como estão, desde a falta de funcionários de apoio até a falta de professores?
Os professores, em particular, não reinvidicam coisas impossíveis e nem uma condição privilegiada; não queremos, não podemos e nem devemos esta acima de outras categorias. O que queremos, e isso é próprio de todo ser humano que ainda carrega uma virtude rara na sociedade atual, a honestidade, é um pouco de recompensa, de reconhecimento pelo papel que devemos e podemos desenvolver rumo a um projeto de nação. Entendo que a educação de pais, objetiva e esta inserida dentro de um projeto mais abrangente de nação; nação essa que é forjada na luta e no sangue de seu povo ao longo da historia e que deve ter por meta a sua soberania e autodeterminação. Portanto, nós professores, somos um componente de relevância nessa enorme tarefa emancipatória. O que ocorre estruturalmente, e infelizmente não vislumbramos esse cenário, é a ausência de uma reforma de caráter econômico que permita investimentos pesados nas chamadas áreas sociais, e entre elas a educação publica. Tal situação é agravada por governos, como o do nosso estado, dirigidos historicamente por políticos de vezo conservador e sem disposição política de romper com essa tendência.
Não obstante essa realidade desfavorável, a sociedade brasileira surgida da redemocratização, tem conquistados alguns avanços, na forma de leis. E os professores, até então uma categoria totalmente desprotegida do ponto de vista legal e sem critérios de promoção na carreira, o que ocorre na prática em nosso estado, também foi, à custa de muitas lutas, alvo desses avanços e entre esses, o mais importante, que era uma reinvidicação histórica da nossa categoria, é o piso salarial nacional. E o que vem a ser o piso salarial nacional dos professores? Resumidamente é o inicio do reconhecimento da carreira de professor. A partir dele, em termos nacionais, nenhum professor, do ensino básico, ou seja, aquele que vai do 1º ano ao 3ª serie do ensino médio, pode receber, em termos salariais, menos que o piso estabelecido pelo MEC. Pois bem, é essa lei, considerada constitucional pelo Supremo Tribunal Federal, órgão Maximo da justiça brasileira, portanto tem que ser cumprida, que a governadora, que, aliás, enquanto senadora votou a favor dela, insiste, por meio de mentiras requentadas não cumprir. Essa é a causa imediata e mais urgente da greve, alem da não implantação do plano dos servidores de apoio(TEDs,ASGs,etc).
A greve não é algo desejado pelos trabalhadores da educação. Como procurei explicar, ela se constitui num recurso extremo, diante de um patrão, no caso o governo do estado, insensível e avesso ao dialogo com os trabalhadores. Nesse sentido pedimos a compreensão da sociedade, de Grossos em particular, para a justeza desse movimento. A greve é estadual, e estamos sendo solidários com os companheiros professores e trabalhadores em educação de outras cidades, pois entendemos que devemos priorizar as ações coletivas na resolução dos nossos problemas. Devemos abominar os individualismos, pois é esse comportamento, baseado no “salve-se quem poder” que a ideologia capitalista quer implantar na personalidade dos nossos jovens.
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