ELEIÇÕES MUNICIPAIS: A ESQUERDA NUMA ENCRUZILHADA
Por Antonio Renato - professor de história da E. E. Cel. Solon.
O processo eleitoral em nossa cidade dá os primeiros passos, o que merece algumas reflexões da nossa parte. Num primeiro momento se apresenta uma conjuntura que nos preocupa e da qual podemos tirar algumas considerações.
A esquerda local se encontra numa encruzilhada. A espera da definição do mandatário da cidade, os partidos que compõem a base de apoio do executivo perdem espaço que pode ter consequências em termos eleitorais. O ganho político, conquistado nas ultimas eleições, pode, por conta da falta de ação política mais decisiva de seus quadros cair por terra.
Primeiro é preciso identificar as esquerdas no espectro político local. Se considerarmos o quadro político nacional, a esquerda é representada pelo PSB, pelo PDT e pelo PCdoB, partidos que coincidentemente compõem a base de apoio do prefeito na cidade. Contudo, sabemos que na tradição política brasileira e local também, as coisas não funcionam exatamente assim.
Os partidos, com exceção das legendas fortemente ideológicas, quando chegam ao poder, tornam-se uma espécie de vala comum, que políticos oportunistas se aproveitam, com o intuito de permanecer próximos do poder. Mas mesmo com essas mazelas, próprias da nossa política, o crescimento desses partidos na base tem seu valor estratégico, pois em eleições de caráter nacional ajuda-os a eleger mais parlamentares, fortalecendo-os no plano federal. Portanto é fundamental manter e ampliar o espaço político conquistado nas pequenas e medias cidades dessas siglas.
Nas alianças que se formam em cidades do porte da nossa, é preciso ter em mente prioritariamente o aspecto estratégico, de longo prazo. Na nossa em particular é notória a hegemonia das forças amplamente conservadoras, inclusive nos governos dos quais as forças progressistas e de esquerda fazem parte e aquelas visam barrar o avanço dessas. Por isso a ação política, a correta leitura da realidade política local, justamente para ampliar a nossa influencia política é tarefa primeira das nossas lideranças. E tenham certeza, isso incomoda por demais o pensamento conservador e de direita da nossa cidade.
Ate o presente momento o que tem marcado o período pré-eleitoral em nossa cidade é a indefinição do situacionismo (é possível que no momento da publicação deste o candidato da situação já tenha sido anunciado). Uma situação que é indefinida por que é um método, é intencional. E é intencional por que a situação tendo a frente o seu líder, em tese o prefeito, nunca deixou claro a natureza do seu governo. O mesmo nunca formulou e, portanto não executou um governo com características do campo democrático-popular; nunca se deixou influenciar nem buscou inspiração nas vozes do pensamento progressista e de esquerda da cidade, que são facilmente identificáveis no fluxo da nossa história.
A consequência disso foi a construção aos poucos, dentro do governismo, da aplicação da famosa teoria da evolução: os aptos sobrevivem e os inaptos desaparecem, um certo “salvem-se quem puder”. O mandatário da cidade simplesmente não tem e nunca teve um projeto de cidade, consequentemente não pensou em estabelecer critérios de indicação de um nome para dar continuidade a esse projeto, pois ele não existe. Eles, os nomes, até existem, mas são desconsiderados, ou como se diz no idioma da política, são fritados. Na outra ponta, não sei com que objetivo e nem sei como, nomes bizarros emergem do nada, o que merecia no mínimo uma declaração pública do prefeito.
Não vai aqui nenhum discurso de vezo oposicionista. Em termos administrativos, a atual gestão é um avanço, não acho que fica muito a dever as outras. Tem seus aspectos positivos; realizou algumas obras. Nas áreas sociais, como saúde e educação, tem ampliado a oferta desses serviços, etc. Mas fica nisso. Não inovou na relação com a sociedade e com os partidos que compõem sua base de apoio. Seu secretariado não reflete a importância das legendas que o apoiam; é mais produto de sua vontade e de aliados mais poderosos. Resultado: a costumeira falta de transparência e a aparência de eterno atraso que ostenta nossa cidade, que também foi marca de administrações anteriores.
Diante desse quadro, cabe as forças do campo progressista e de esquerda, que estão abrigadas no guarda-chuva da situação preservar sua própria sobrevivência e estacar esse processo que visa o seu isolamento, desqualificação e que pode levar aquela postura de “ir a reboque”, de ser engolido, de no final das contas ser uma sigla a mais na sopa de letrinhas que via de regra são as coligações. Precisa tomar iniciativas, criar estratégias políticas, que mostrem que não são partidos simplesmente adesistas, capazes de construir situações, que, aliás, é tarefa das nossas lideranças.
1 Comentário:
Concordo com o amigo Prof.Renato, quando fala em projeto político. Este, nunca tivemos em nossa história. Nossos comandantes(passados e presentes),não tiveram a preocupação de elaborarem um plano audacioso que mudasse a cara política local. Assistencialismo, é a cara de nossa realidade, e ai daquele que não a fizer!
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