Ele existe. Quem paga é o contribuinte
brasileiro. Os funcionários do Congresso formam uma casta no setor
público, com média salarial de R$ 15 mil
São 11 horas da manhã da quinta-feira, 13 de setembro, e Nilton Paixão,
funcionário da Câmara dos Deputados, está de camisa azul-escura Lacoste e
calça jeans. “Você se importa se eu desligar o ar? A secura faz mal”,
diz Nilton, acomodando-se numa das poltronas pretas da sala da
presidência do Sindicato dos Servidores do Legislativo, no 7o andar do
edifício Belvedere, em Brasília.
Nilton é presidente do Sindilegis – o
poderoso sindicato que defende os interesses de cerca de 11 mil
servidores públicos da Câmara, do Senado e do Tribunal de Contas da
União – desde 2010. A média salarial da categoria está na casa dos R$ 15
mil. Nilton, contudo, ganha ainda mais.
No papel, R$ 37 mil brutos. Ele
garante que, na realidade, recebe menos: R$ 26.723,13, ou o teto do
funcionalismo público. É o mesmo salário que recebem ministros do
Supremo Tribunal Federal, deputados federais e a presidente da
República. “Não quero abrir meu salário para ser coerente com a luta do
sindicato na Justiça”, diz Nilton.
Esta é a segunda reportagem de uma série de ÉPOCA sobre os supersalários
no setor público. Salários que Nilton e seus colegas de Congresso, por
uma questão de “coerência”, preferiam que não fossem expostos ao
conhecimento dos brasileiros.
Desde maio, o Sindilegis tenta evitar, na
Justiça, que Câmara e Senado publiquem, mensalmente, a lista com nomes e
os respectivos salários de seus servidores – como já fazem os órgãos do
Poder Executivo e parte do Judiciário. É o que determina um decreto
baixado pela presidente Dilma Rousseff em 17 de maio. Trata-se de um dos
filhotes da Lei de Acesso à Informação, sancionada em novembro do ano
passado.
A lei regulamenta a desejável transparência do Poder Público,
como prevê a Constituição – e como detestam alguns sindicalistas. Na
semana passada, o Tribunal Regional Federal da 1a Região derrubou uma
liminar do Sindilegis que impedia o Senado de publicar a lista.
“Ninguém, seja na iniciativa privada, seja no serviço público, quer ser
exposto assim”, diz Nilton. Ainda mais se, como no caso da Câmara e do
Senado, o contracheque mostrar valores acima do teto de R$ 26 mil que a
lei permite.
No mês passado, o Senado pagou salários acima desse teto a
mais de 1.400 funcionários. Um técnico em eletrônica recebeu R$ 47 mil
brutos. Com os descontos, R$ 33 mil chegaram a sua conta bancária.
A
Câmara dos Deputados tem 2.300 servidores na mesma invejosa situação. Um
analista legislativo recebeu quase R$ 32 mil em agosto. Três outros
analistas receberam R$ 27 mil. Graças ao trabalho de Nilton e do
Sindilegis, não é possível saber seus nomes nem o que fazem para merecer
tamanha quantia.
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